sexta-feira, 18 de maio de 2012

Uma questão de educação...

3004 na Central. Dele, vi as (bizarras)cenas relatadas no post abaixo. 


Central, dia 15 de maio. Era 17:00 na estação principal da Supervia. Estava no 3004, que pela hora, iria subir operando no pico. O trem é um dos novos da Supervia, tudo que há de bom e do melhor para a modernização do sistema ferroviário carioca. Mesmo sendo um trem chinês, nele apostamos nossas fichas para a melhoria do sistema ferroviário que os passageiros tanto desejam... 

Paro aqui meu discurso politicamente correto, e volto ao que importa. Na "Plataforma 2 Vermelha", agora fixa dos paradores para Deodoro, Bangu e Campo Grande, não havia trem. O que para o serviço é algo incomum. Chega o 3004 na linha B, solitariamente. Decido não desembarcar, e ficar no trem. Abrem-se as portas do lado direito, para o desembarque dos usuários na simbólica plataforma 1. Do lado esquerdo, vejo muita gente esperando o embarque na 2. Inocentemente, penso: os usuários devem ficar mais calmos principalmente pelo fato de viajar nas novas unidades, o embarque será tranquilo, afinal é o ramal Deodoro...

Ledo engano. Mal abrem-se as portas do novo trem, dá-se o "estouro da boiada". Pessoas de todas as idades entraram correndo no novo trem, em busca do lugar pra sentar.Assento preferencial virou mero banco lilás de cor diferente, quem sentou sentou, quem não sentou viaja em pé... 


Assento preferencial num trem da Supervia, e abaixo no novo trem chinês da Série 3000. O respeito por eles é bem menor que o existente nos trens do Metrô. Por que será?


Os serviços paradores não podiam ficar sem trem, assim as coisas começaram a se normalizar, vindo dois trens dos desvios da Central para imediata operação nos paradores. Chega o 921, e ele é marcado como Bangu. Dado o aviso no áudio da estação, as pessoas que ainda estavam na plataforma correm para o mesmo, e alguns do que estavam no 3004 abandonam o mesmo. O trem abre as portas, e simplesmente dá um repeteco da cena anterior que digitei aqui, gente esperando abertura da porta pra sair correndo para sentar no trem.

Se você achava que não poderia piorar (?), vem 8003 dos desvios também. Para na mesma plataforma 2B, em frente ao 921. É dado o aviso no áudio, marca como Campo Grande. O 921 esvaziou praticamente, todos correm para o 8003, e mais uma vez corre-corre para entrar e garantir lugar sentado no trem. No final das contas este parte primeiro que o 3004, partindo imediatamente depois. Resumo da ópera: o 8003 que tanto disputaram para entrar avaria no Engenho de Dentro, relativamente cheio como todo Campo Grande. O 3004 ganha preferência e ultrapassa o mesmo pela linha B.O novo trem chinês vai normalmente na frente do 8003, que seguiu até Deodoro. Todos os passageiros são anunciados do não prosseguimento da viagem e da avaria do 8003. Estrategicamente(ou sorte da Supervia), o 713-720(unidade de 8 carros) esperava na plataforma 1, onde os passageiros correram freneticamente para viajar sentado no trem, estavam tão desesperados de tal modo que os carros que estavam mais afrente partiram relativamente vazios, e os carros próximos ao 8003 estavam cheios. 

Com um relato desse, pergunto: o usuário tem razão? Para início de conversa, esse corre-corre para embarcar nos trens é prato cheio para batedores de carteira, que na confusão se aproveitam e roubam carteiras e celulares de quem está apressado para embarcar. Me lembro que, em meados de 2009, policiais a paisana prenderam esses aproveitadores por roubarem trabalhadores que de certa maneira entram com toda selvageria do mundo nos trens. 



Se você rodar este vídeo lentamente, perceberá que um cara de camisa vermelha puxa a carteira do bolso do senhor de camisa amarela na frente dele e coloca imediatamente no seu bolso. Ganhou lugar no trem, de prêmio perdeu a carteira e documentos.


Além disso, você também corre um outro risco. Já se ligou no aviso "Atenção com o espaço entre o trem e a plataforma"? Deveria, pois essa é uma das maiores causas de acidentes nas estações ferroviárias. Gente que cai no vão, fratura o pé ou a perna por não ter se ligado nisso se torna normal, principalmente numa condição de embarque tão insegura como esta. A Supervia veio instalando estribos para diminuir esse vão onde as plataformas estão alinhadas com os trens, no entanto as portas desencontradas, característica clássica de todos os trens atualmente operantes(excetuando os 1000, 2005 e 3000) somada a determinada inexatidão na parada dos trens deixam as portas dos mesmos fora dos estribos. Uma pisada em falso, um empurrão de alguém que vem atrás de você e principalmente a desatenção podem fazer com que sua viagem seja numa ambulância do SAMU para o hospital mais próximo...


Estribos nas plataformas de Realengo: Inexatidão nas paradas dos trens nas estações e o projeto de portas desencontradas acabam por invalidar a boa iniciativa. O cuidado ainda deve ser redobrado.


Tanta selvageria poderia ser substituída por um embarque tranquilo e seguro? Claro. Mas vivemos sob o pensamento de que o melhor transporte é aquele que dá pra viajar sentado, e a isso agradeço a mídia por ter tanto errôneamente suplantado em suas matérias sensacionalistas e sem fundamento técnico acerca dos transportes em geral.


Entendam uma coisa, caros leitores: Se fosse para andar sentado, os trens da Supervia seriam como os trens de passageiros de longas distâncias que rodam pelo mundo, onde você compra a passagem, viaja sentado e ninguém viaja em pé nos corredores, confortavelmente indo e chegando ao seu destino. Mas falamos de um sistema de metrô, pode-se assim dizer. Transportes de alta capacidade onde o objetivo é carregar o maior número de passageiros dentro dos limites "eticamente estabelecidos" (6 pessoas/m² é o nível de conforto que deve haver dentro do trem, de acordo com a média mundial)em regiões metropolitanas de grande fluxo de pessoas. Por assim dizer, você sabe que vai passar aperto na hora do rush, seja no metrô da Pavuna a Central ou o trem de Japeri. Ou seja, o que entra em questão é uma melhoria dos transportes para uma melhor mobilidade e não para se viajar sentado as 18:00 no trem para Santa Cruz.

Corre-corre e tumulto no trem coreano(Série 2005). Nem os novos trens estão escapando. 

Claro, irão me justificar, afinal está atrasado ou em cima da hora para ir ao trabalho, ou quer chegar rápido em casa para assistir sua novela, curtir sua família ou descansar simplesmente. Ou que depois de um exaustivo dia você quer viajar sentado por sua estação ficar distante, e não querer ficar a viagem inteira em pé. Sinceridade: nada ficará diferente. Mas ficará mais digno. Os novos trens com ar-condicionado vem para isso, para você não ir ou chegar do trabalho mais suado do que você está, fora a adição dos bagageiros que foi uma ótima sacada dos novos trens. O acréscimo de frota serve para oferecer mais viagens, para assim evitar longos intervalos e lotação excessiva nos trens. E menores intervalos como opção de escolha, para que você perca o trem, mas que possa esperar outro que venha imediatamente atrás e não fique muito atrasado para o trabalho ou chegue muito tarde em casa. Isso também envolve vários fatores técnicos que farão as viagens mais rápidas e tranquilas.




Na nova sinalização, o tráfego dos trens se tornará seguro, minimizando risco de acidentes e, ao mesmo tempo, permitindo menores intervalos. 

Tudo isso aos poucos fará erradicar e tornar sem sentido esses hábitos. Um exemplo: o corre-corre nas plataformas da Central aos poucos começa a se tornar sem sentido com a "fidelização" das plataformas, o usuário sabendo onde o seu trem irá partir não terá mais motivo para esperar o trem marcar no televisor e sair correndo loucamente pela plataforma para pegar o trem, e principalmente havendo trens para tal, que é bom para o passageiro e para a própria Supervia, que assim acaba com os avisos de "trem para Gramacho partirá excepcionalmente da plataforma 6 (e isso é verídico, presenciei algumas vezes essa cena bizarra)" e consegue remanejar organizadamente os trens ao longo das 13 plataformas e 14 linhas da Central, fazendo também parte de um dos básicos requisitos para a organização e elaboração do novo sistema de sinalização, sendo instalado pela Bombardier Transportation. 






Fidelização das plataformas envolveu repintura das plataformas de acordo com a cor do ramal vista nos mapas indicativos da Supervia e criação de plataformas de desembarque, junto com reconstrução dos acessos ao subsolo da Central do Brasil.


No entanto, não adianta mudar isso tudo se a educação do usuário continuar a mesma, entrando num trem correndo, desorganizadamente e empurrando os outros, facilitando também o trabalho dos batedores de carteira... Ao contrário do que se pensa, também depende de nós para vermos um sistema minimamente organizado.






Agradecimentos: Bruno Rodrigues (vídeos), Skyscrapercity(Usuário RICO.23: Fotos das plataformas da Central do Brasil). 

Um comentário:

Blog disse...

Muito bom esse blog. Realmente eu nao entendo o desespero de ir sentado no trem. Uma vez eu vi uns homens pulando de uma plataforma para outra em meio aos trilhos assim que o trem chegou na central. Seria bom se esse trem fosse metro, que eh muito mais organizado e os trilhos energizados :-)