domingo, 18 de julho de 2010

Mafersa Série 700, um fruto da indústria ferroviária nacional


 Conforme dito no último tópico sobre os trens de subúrbio,a RFFSA realizava um grande processo de revitalização e modernização da Divisão Especial de Subúrbios do Rio de Janeiro.Num total de 180 trens licitados,já haviam chegado 30 trens,os Hitachi/Nippon Sharyo Série 500.Entre 1978 e 1980 houve também a passagem de trens da Série 600,construídos numa parceria Mafersa-Budd Company,e que logo após o início da chegada dos TUEs das Série 700,800 e 900 voltaram a SP.Na passagem por aqui estes trens da Série 600 rodaram mais no ramal Gramacho-Br.Mauá.


Em 1980 começaram a chegar as primeiras unidades da Série 700.Ao contrário do que muitos dizem,eles nunca foram emprestados a São Paulo,e também não há trens 700 cariocas por lá.Até porquê,em 1987,a Superintendência de Trens Urbanos de São Paulo viria a adquirir diretamente,sem licitação,os trens da Série 1700 que rodam por lá,consequentemente mais novos que os nossos 700,que este ano completam 30 anos de serviços prestados.

 Série 700 acima fazendo o ramal de Nova Iguaçu, e abaixo nas proximidades do Centro de Manutenção da Cidade Nova,por onde passavam os seus parentes da Cia.do Metropolitano

 A Série tinha,e tem,muitos pontos a seu favor:Bom torque e aceleração,comandos para a condução do maquinista eram bons,ventilação eficiente,porém alguns fatores não foram tão bons:A época o sistema de freios deixou a desejar quando em alta velocidade,o que obrigava ao maquinista a também aplicar o freio auxiliar de estacionamento para efetuar a parada,o arranjo cromático não era muito satisfatório,com muitos frisos e acabamentos obrigava uma maior manutenção e mais gastos,os bancos não muito ergonômicos e a má qualidade do sistema de portas,tanto o material empregado nelas quanto o sistema de fechamento...Os trens da Série 700 já apresentavam alguns avanços em relação ao restante da frota existente no Rio,como o engate automático BSI aliado a um design bem melhorado se comparado aos trens das séries anteriores.Os sistemas elétricos e de tração eram os mesmos aplicados a Série 500,da Hitachi.

Interior da Série 700,quando recém-fabricados.

A Série 700 carioca representou um marco para a Mafersa e também para a indúsutria ferroviária nacional:o carro E 717 erao 1000° carro produzido nas dependências da Mafersa.O mesmo roda até hoje no sistema de trens cariocas sem reformas,ou seja,''original''.

Milésimo carro produzido pela Mafersa,o E 717 continua rodando até hoje,porém um pouco mais desgastado...

Infelizmente muitas unidades foram canibalizadas ou baixadas na gestão CBTU e Flumitrens.Pouquíssimas por algum tipo de acidente,a grande maioria pela falta de investimentos no setor de manutenção e falta de peças de reposição.

 Acima,o lado bonito da CBTU,com os Séries 700 lindíssimos nas cores da CBTU,e abaixo o lado negro da CBTU:A unidade ER 701-E 701 descarillada e mais abaixo a imagem do documentário sobre "Surfistas de Trêm e Pingentes" da Tv Manchete,feito em 1990,na qual mostra o mesmo E 701,incendiado por usuários devido aos atrasos constantes... 


  Logo após o início da concessão da SuperVia,a Série 700 foi incluída no Programa Estadual de Transportes(PET),que previa a reforma e reabilitação das unidades baixadas.Reformados pela Alstom,a Série 700 representou um marco na ferrovia carioca:Foram as primeiras unidades reformadas e equipadas com ar-condicionado,além de uma revitalização no interior.Outras unidades também foram modernizadas,mas sem ar-condicionado,e entregues entre 2000 e 2001.A partir de 2002 todas as unidades 700 modernizadas vieram com ar-condicionado.
Acima,duas fotos de 700 reformados sem ar-condicionado,na primeira o TUE 708(esq.-E 708-ER 708-ER 1708-E 1708) e o TUE 720(dir. e segunda foto-E 720-ER 720-ER 1720-E 1720).Abaixo,três fotos do último 700 entregue com ar-condicionado,o TUE 707(E 707-ER 707-ER 1707-E 1707),e a última foto também é o TUE 707,só que adesivado...
 

Estas unidades reformadas deixaram de possuir o engate BSI, e ganharam o engate ''mandibular'',além de um novo arranjo cromático interior,com cores brancas,e bancos azuis.O gangway foi mantido,porém nas unidades de AC foram colocadas portas,para de certa maneira ajudar na circulação do ar-condicionado e auxiliar o pessoal da manutenção,para que em certas situações,não tenham que descer dos carros para trafegar entre as unidades.
  
Acima,fotos do TUE 724(E 1705-ER 724-ER 1702-E 1729),que juntamente com o TUE 713(E 713-ER 713-ER 1713-E 1713)abaixo,são um dos pouquíssimos TUEs da Série 700 com as cores da SuperVia.

Muitas unidades ainda não foram reformadas,assim como há carros que ainda estão baixados,todos a espera de algum plano de reforma que os inclua,já que o PET-1 já foi concluído,com a entrega em dezembro de 2008,da unidade 707.

 Acima,nas duas primeiras fotos,carros da Série 700 que aguardam plano de reabilitação até hoje no GEMEC de Deodoro,já a terceira é a de um carro da série 700 sucateado em São Diogo.Já a foto abaixo,é a de um carro que infelizmente sofreu danos devido a esta pilastra,no mesmo GEMEC de Deodoro,que não poderá mais ser reformada.

Abaixo,três originais ativos que também precisam de reformas,de cima para baixo,os TUEs 730(E 730-ER 730-ER 1730-E 1730),715(E 715-ER 715-ER 1715-E 1715) e 710(E 710-ER 710-ER 1710-E 1710)

O receio é de que além dos baixados e originais ativos,os reformados sem AC tenham que ganhar o equipamento de AC,caso o Governo do Estado do Rio de Janeiro e a SuperVia queiram ter até 2014 no mínimo 85% da frota equipada com ar-condicionado.
 
 

No próximo post,falarei novamente de Metrô,mas desta vez dos ''Pré-metrôs'' fabricados pela Cobrasma,utilizados na Linha 2.Até +!!!

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Metrô do Rio:Os carros Mafersa


A história dos trens da Mafersa para o Metrô do Rio de Janeiro iniciava-se no ano de 1974,quando da abertura de licitação para os carros do Metrô.O resultado veio a sair um ano depois,em setembro de 1975:o consórcio Metrocarro Mafersa-Villares estava responsável pela construção do protótipo e do fornecimento de 270 carros para a Cia. do Metropolitano do Rio de Janeiro

 Esta é parte da capa de um folder distribuído pelo Metrô do Rio de Janeiro em agosto de 1975,curioso destacar que já naquela data a CMRJ já tinha em mente o layout externo dos carros que viriam a ser produzidos pela Mafersa dois anos mais tarde,e que foi expresso neste render.

De uma maneira um tanto quanto rápida o primeiro protótipo dos carros já estava pronto na Mafersa no ano de 1977 e realizava testes no mês de julho deste ano.Por pouco também que a Mafersa não consegue sair como vencedora também da licitação dos carros do Pré-Metrô,na qual também competiam a Cobrasma e a Companhia Industrial Santa Matilde,e na qual no mesmo ano,em março,a licitação havia anunciado a Cobrasma como vencedora da licitação.E assim foi:no mês de janeiro de 1978 a Villares entrega os primeiros truques para a montagem nos carros,e a empresa americana Westinghouse foi a responsável pela instalação dos motores elétricos...

No dia 7 de abril de 1978 o primeiro carro do Metrô é concluído e a ser transportado para o Rio de Janeiro por trilhos,rebocado por locomotiva da Rede Ferroviária Federal.Quatro dias depois os dois primeiros carros já estavam presentes na cidade do Rio de Janeiro e uma semana depois no dia 18 de abril houve a primeira inspeção visual nos veículos.


 Carro 001,o primeiro entregue a Cia. do Metropolitano,já nas dependências do Centro de Manutenção.A primeira foto é da plaqueta comemorativa do primeiro carro entregue pronto pela Mafersa.

No dia 25 de abril,o primeiro contato dos carros com os trilhos do Centro de Manutenção,823 metros de linha instalada especialmente para os testes dos carros.Os testes de segurança foram feitos até o dia 8 de maio,passando por mais 17 dias de testes estáticos e mais 13 dias de testes funcionais...E no dia 29 de julho o carro protótipo do Metrô fez sua primeira viagem com passageiros,percorrendo 600 m das linhas do Centro de Manutenção por 4 vezes,somando um total de 2400 metros.E finalmente em agosto ele desceu as galerias construídas do Metrô para no dia 5 de março de 1979 ele fazer a sua primeira viagem,no trecho Glória-Praça Onze[clique na imagem para ampliá-la]:

Somente no dia 19 de novembro de 1981,os Mafersas vieram a realizar viagem no primeiro trecho da Linha 2 entre São Cristóvão e Maracanã.Até 1980 o status da entrega dos carros era este:
  • 1978 - 16 carros entregues
  • Janeiro de 1979-Julho de 1979 - 48 carros entregues
  • Agosto de 1979-Maio de 1980 - 92 carros entregues
 Cartão-postal da Cia.do Metropolitano,distribuído na época da inauguração nas estações em 1979.

A partir do dia 12 de maio de 1982 os carros do Metrô passaram a andar sozinhos!! Isso graças ao sistema de piloto automático instalado na Linha 1,que permitiu diminuir o intervalo de 6 para 3:45 minutos aproximadamente,aumentando consideravelmente a segurança e a oferta de trens.



Estação da Cinelândia,em 1981,consideravelmente cheia.

Porém devido a falta de verbas em operação e manutenção,iniciados em 1984,o Metrô começou a apresentar deficiências na manutenção e operação do serviço.Vários problemas técnicos estavam ocorrendo e causaram ligeira diminuição no número de passageiros/dia,e carros passaram a ser canibalizados para suprimento de peças.Mais 15 carros foram recebidos no ano de 1983 e no ano de 1984,após entregues 23 trens,a Mafersa suspende o entrega de novos trens em função da falta de pagamento.

No ano de 1985 cinco trens de 6 carros estavam canibalizados nas dependências do Centro de Manutenção,em decorrência da falta de peças,a situação veio a se agravar no mesmo ano com mais duas unidades canibalizadas em seguida.Para completar,35 carros estavam sucateados no pátio da Mafersa em São Paulo,carros estes inacabados em decorrência do cancelamento de contrato por não-pagamento.No dia 4 de junho do mesmo ano era suspensa a operação automática dos trens,sendo retomada a operação automática somente no dia 11 de janeiro de 1986...Em maio de 1985 aproximadamente 15 bilhões de cruzeiros são repassados ao Governo do Estado para o início da recuperação da frota canibalizada.

Duas imagens de um trecho do filme ''Um trem para as estrelas'' ,do ano de 1987,que se passam nas dependências do Metrô.O mesmo se encontra na estação Botafogo.


Em 1993,a frota de Mafersas estava assim: 46 carros tipo A(com cabine de condução) e 100 carros tipo B(sem cabine de condução),possibilitando a formação de 23 trens de 6 carros e ainda sobrando 8 carros tipo B.A situação era muito adversa ao que previa o contrato inicial: 270 carros,106 carros tipo A e 164 carros tipo B.

 Esquema representativo dos carros tipo A e B dos Mafersas.

Entre 1996 e 1997 a Alstom "cumpre o contrato" firmado pela Mafersa em 1975,ou seja,entrega 36 novos carros, 22 tipo A e 14 tipo B-lembrando o que está escrito mais acima,35 trens em 1985 se encontravam parados no pátio da Mafersa devido a falta de pagamento da quantia prevista na licitação-aumentando a oferta de trens e inclusive encerrando o ciclo precoce dos pré-metrôs na Linha 2,assunto já para outro tópico.

Depois que o consórcio Opportrans passou a ser o controlador do serviço de Metrô no Rio,esta foi a pintura sucessora ao da Cia.do Metropolitano.Grandes mudanças,no que diz respeito as cores e a nova logomarca.

Em meados de 2007 a empresa sofre nova alteração visual,e as máscaras acabam ganhando a cor azul,padrão visual mantido até hoje.

Em março de 2008 alguns carros da Mafersa ganharam um novo interior,visando maior comodidade e maior espaço para passageiros em pé.Processo de reforma este que devido a frota de 33 trens estar rodando quase que ininterruptamente,e demonstrando déficit de frota no sistema atual e agravado pela Linha 1A, encontra-se paralisado.Inclusive já foi estudada mudança da máscara frontal para os carros tipo A dos Mafersas,projeto aparentemente engavetado.
Nas imagens acima,carros com os interiores renovados,pela Pifer Interiores Ferroviários,com design elaborado pela Ydea Design.Nas duas últimas fotos reparar a diferença no desenho dos bancos:Sim,a Pifer,que também fez o interior dos trens coreanos,em um dos carros reformados pôs os mesmos estofados encontrados nos Série 2005 da SuperVia.Abaixo desenho esquemático do interior reformado.
Com a construção da Linha 1A,certas curiosidades estão acontecendo com os Mafersas:Primeiramente se trata do trem 99,na qual tem dois carros tipo A engatados,como num trêm da SuperVia por exemplo:

Ou então Mafersas na Pavuna:

 
Fora outras estranhezas,os Mafersas continuam tendo a dura missão de transportar os passageiros pelas Linahs 1 e 2 conectadas,e quem sabe no futuro pela expansão até a Barra né...

 No próximo post falarei mais sobre a Mafersa,no caso os 30 trens que ela produziu para os subúrbios da Central do Brasil. Até !!